quinta-feira, 29 de julho de 2010

Mais carinho - pelo meu aniversário


Pela passagem de meu aniversário



Lucelenamiga,
somos qual estrelas que volta e meia se encontram, mas a alegria é tão grande que nossos brilhos aumentam que na terra pensam que somos novas!

MUITAS FELICIDADES
e que este Ano que se inicia te traga mais sucesso,
mais encontros felizes e que te seja doce!
Beijo meu, Rivkah





Ponta dos Pés
Lucelena Maia


A música toca convidativa
Fazendo pernas agitarem
As sapatilhas em ponta,
Leves, a se expressarem
Enquanto a barra sustenta-as
Em alongamento.

Braços vão e voltam, sem parar
Com musculatura em movimento...

Coreografia perfeita, sem riscos de erro.

Pernas ganham o ar,
Braços interpretam o sentir do bailarino,
dançando, a doar seu corpo
ao que a música pretende exprimir.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Linguagem genuína


Na revista Piauí de junho de 2010, chamou minha atenção uma reportagem com texto de Francisco Buarque de Hollanda - "Os dicionários de meu pai". Ele fala de sua surpresa pela nova edição do dicionário analógico de Francisco Ferreira dos Santos Azevedo, como se tivessem lhe revirado os baús e espalhado aos ventos seu tesouro. Tratava-se de uma terrível ( funesta, nefasta, macabra, atroz, abominável, dilacerante, miseranda) notícia.

Você entenderá do que falo ao ler o texto abaixo, porque nos convida, mesmo sem convidar, a comprar o dicionário e a encantar-se por ele, ao primeiro folhear de páginas. Isso aconteceu comigo. (lucelena maia)





Os dicionários de meu pai

Pouco antes de morrer, meu pai me chamou ao esritório e me entregou um livro de capa preta que eu nunca havia visto. Era o dicionário analógico de Francisco Ferreira dos Santos Azevedo. Ficava escondido, perto dos cinco grandes volumes do dicionário Caldas Aulete, entre outros livros de consulta que papai mantinha ao alcance da mão numa estante giratória. Isso pode te servir, foi mais ou menos o que ele então me disse, no seu falar meio grunhido. Era como se ele, cansado, me passasse um bastão que de alguma forma eu deveria levar adiante. E por um bom tempo aquele livro me ajudou no acabamento de romances e letras de canções, sem falar das horas em que eu o folheava à toa; o aos dicionários, para o sérvio Milorad Pavic, autor de romances-enciclopédias, é um traço infantil no caráter de um homem adulto.

Palavra puxa palavra, e escarafunchar o dicionário analógico foi virando para mim um passatempo ( desenfado, espairecimento, entretém, solaz, recreio, filistria). O resultado é que o livro, herdado já em estado precário, começou a se esfacelar nos meus dedos. Encostei-o na estante das relíquias ao descobrir, num sebo atrás da Sala Cecília Meireles, o mesmo dicionário em encadernação de percalina. Por dentro estava em boas condições, apesar de algumas manchas amareladas, e de trazer na folha de rosto a palavra anauê, escrita a caneta-tinteiro.

Com esse livro escrevi novas canções e romances, decifrei enigmas, fechei muitas palavras cruzadas. E ao vê-lo dar sinais de fadiga, saí de sebo em sebo pelo Rio de Janeiro para me garantir um dicionário analógico de reserva. Encontrei dois, mas não me dei por satisfeito, fiquei viciado no negócio. Dei de vasculhar livrarias país afora, só em São Paulo adquiri meia dúzia de exemplares, e ainda arrematei o último à venda na Amazon.com antes que algum aventureiro o fizesse. Eu já imaginava deter o monopólio ( açambarcamento, exclusividade, hegemonia, senhorio, império) de dicionários analógicos da língua portuguesa, não fosse pelo senhor João Ubaldo Ribeiro, que ao que me consta também tem um, quiçá carcomido pelas traças (brocas, carunchos, gusanos, cupins, térmitas, cáries, lagartas-rosadas, gafanhotos, bichos-carpinteiros).

As horas mortas, eu corria pela minha prateleira repleta de livros gêmeos, escolhia um a esmo e o abria a bel-prazer. Então anotava num moleskine as palavras mais preciosas, a fim de esmerar o vocabulário com que eu embasbacaria as moças e esmagaria meus rivais.

Hoje sou surpreendido pelo anúncio desta nova edição do dicionário analógico de Francisco Ferreira dos Santos Azevedo. Sinto como se invadissem minha propriedade, revirassem meus baús, esplhassem aos ventos meu tesouro. Trata-se para mim de uma terrível ( funesta, nefasta, macabra, atroz, abominável, dilacerante, miseranda) notícia.

Francisco Buarque de Hollanda