sexta-feira, 29 de maio de 2009

Meus trovões



Meus trovões
lucelena maia

Pudesse, eu, despertaria todos os dias,
Sob claro céu surgido do escuro;
No chão, poria os pés acolhidos
Ao equilíbrio silencioso dos mudos.

Pudesse, eu, enfrentaria os trovões,
Junto aos relâmpagos da minha alma,
Que resvalam no meu próprio apagão,
Porque sou um tropel de lágrimas.

Tivesse, eu, certeza de que além morte
Há vida, e a ela valeria concorrer,
Lançar-me-ia ao aguaceiro da sorte,
Com molde ajustado para renascer.

Mas tempestade farta e solitária
Troveja junto ao meu umbigo,
Numa corrente elétrica imaginária,
Ligando e desligando meu sentido.

As horas repousam sobre meus restos...
Acordei! Dormi! Será que existo?
Levanto-me e tento um gesto
Para estar certa de que ainda vivo.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Apelo / Lizete Abrahão e ...Coragem, Maria! / Lucelena Maia


imagem do poema de
Lizete Abrahão
(uma amiga e poeta muito especial)

Meu texto vem abaixo de seu poema "Apelo" - não
pude resistir, saiu ....Coragem, Maria!

Apelo
Lizete Abrahão

Quando o mar se atira contra o rochedo,
Entre espumas descarta-se em marés;
Plúmbeas nuvens o céu cobrem de medo
Que em águas se desfaz sob os meus pés.

Quando a boca do monte cospe lava,
O chão lambendo com línguas vermelhas;
Arando a terra, rosna o vento em brasa,
Dos casarios mastiga as frágeis telhas.

Quando, no paraíso, a tal maçã,
De sabor a pecado e sem perdão,
Na boca teve gosto de manhã,
No corpo pulsou dor e novação.

Amor é chama, é fogo visceral;
É o apelo da vida: pão e sal!

RJ/22.05.09


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...Coragem, Maria!
lucelena maia

Havia noites, o barulho das ondas em impacto com o rochedo de infinita solidão, a sustentar a casa de Maria, falava-lhe ao ouvido como que se lhe cobrasse autorremissão pelos atos não cometidos.
Assombrava-lhe pensar desarranjado o hoje porque deixara de aventurar-se no ontem.
O seu lado sensato, não menos inseguro, jamais audacioso, levava-a para caminhos sem volta, ao esconderijo de si mesma.
Solitárias, na areia, suas pegadas eram vistas.
Quantas vezes traira-se, desde que ali chegara, escrevendo poemas saudosos na areia, ao dizer da necessidade do brilho de um olhar que lhe esquentasse a alma, sobre romântico afago nos braços do luar, uma noite de amor embalada pelo som das mansas águas. Nomes, dera nomes aos poemas, sempre, o mesmo nome, lidos pelas ondas e em seguida lambidos por elas.
Tentava recordar-se firme, engenhosa e convicta mas, quanto mais insistia, intensos ficavam os sons nas rochas.
Fugira da turbulenta rotina isolando-se na casa de praia em busca de dias amenos para usufruir do silêncio do ambiente, com intenção de ser seduzida pela simplicidade, porque queria reconfortar-se na varanda a observar o infinito do mar, os muitos navios que ao fundo navegam até sumirem a visão. Desejava ver a felicidade dos pássaros em revoada recepcionando o dia, entregues ao cenário perfeito da natureza. Ver, também, sem esforço algum, o sol acariciando as folhas das palmeiras no início de mais uma manhã, a secar o sereno da madrugada. Observá-lo despontar dourado no céu e, mais tarde, vê-lo despedir-se apoteótico; era só o que pedia Maria ao fechar as cortinas do próprio espetáculo.
O lugar propiciava paz. Até mesmo descer por entre as rochas e chegar na praia dava-lhe prazer pela pitada de aventura física e exercício de resistência corporal. Tudo parecia e poderia ser perfeito não fossem os gemidos constantes das águas nas pedras, quando a noite chegava, a tilintarem em seu pensamento.
Do quarto, observava a redonda lua na mesma candura e romantismo dos tempos pregressos, um verdadeiro candelabro a iluminar as águas que, quanto mais ela tentava não as ouvir, escalavam as rochas a molhar em intenção seu angustiado coração.
Assim eram todas as noites de Maria.
O vento acariciava-lhe a face, soprando-lhe ao ouvido...
"...Coragem, Maria!"
Mas ela não o entendia.
Porém, noturnamente ele insistia...
"...Maria, coragem!"

S.João da Boa Vista/SP
05/2009

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Solidão


imagem do Google


Solidão

Ah, solidão! Intocável solidão...
Sinto-a próxima, a instigar-me,
Desejando confundir minha razão,
Pronta a investigar meu silêncio,
Ocupar-se do meu pensamento,
Tomar de mim as boas lembranças,
E desarrumar a paz em meu coração,
Com faxina em reservados cantos,
Para que eu caia em pranto.
Testa-me na desolação,
Mas vou driblá-la, subserviente
Embarcando nesta viagem,
De vida, recordações...
... do antes, do durante, e o depois...
Mas devo informá-la: já sei,
Na vida, tudo passa,
A alegria, a tristeza, o ódio, a mágoa,
Também o bom momento passa.
Na pele, fica a energia do sol;
Nos olhos, o brilho das estrelas;
Fica a lua, linda e livre, em quatro fases.
E, eu, apesar de triste, fico assim como você...
Intocável.


lucelena maia

do livro de poemas

"Põe-te de pé, poeta!"

sexta-feira, 15 de maio de 2009

O roçar do outono


imagem do google

O roçar do outono
lucelena maia

Junto ao vento
na fria manhã outonal
sobre rústico peitoril da janela
cortina esvoaça
num vai e vem sem destino
deixando entrar
folhas secas
a se acomodarem no chão...

O vento, mais uma vez,
ao outono se abraça,
as folhas secas, antes,
sossegadas,
levitam e se vão
rumo ao firmamento,
livres de quaisquer anseios,
como bolhas de sabão
que encantam os olhos
brindam a estação,
depois
janelas elas adentram
indo acomodarem-se no chão...

São João da Boa Vista/SP
maio/2009




sábado, 9 de maio de 2009

O que se pretende preservar?



O que se pretende preservar?

Lucelena Maia – escritora e poeta

Analisando com cuidado os relacionamentos, percebe-se que se esfacelam com o tempo.
Na forma figurativa, por exposição exagerada ao sol, porque a madrugada é fria, pelo indiferente lusco-fusco do entardecer. Na verdade e talvez, por serem secundários perante as tantas prioridades que a vida impõe no dia-a-dia e, ainda, recordando a aurora da vida, porque os sonhos eram muitos e as mazelas desconhecidas, a cautela apenas um adereço sem importância.
Quem sabe, se esfacelem pelo excesso de respeito a individualidade de cada um!
DNA é único e intransferível. É prova absoluta de independência do ser humano em relação ao outro, exceto com pai e mãe, o que não os favorece para o bom relacionamento com seu filho, é preciso conviver para fertilizar amor e aguardar que os anos digam do caráter.
A palavra complexidade tem dono; o homem, independente de classe social, raça ou instrução escolar.
Apesar das confusões interiores que permeiam o ser humano, em certo momento da vida tudo fica claro e simples, nem sempre fácil, mas oportuno para reconhecer o que se perdeu por ser rude e o que ainda pode-se reconquistar num relacionamento.
Pessoas despretensiosas têm maior facilidade para enxergar o azul do céu, onde estrelas brilham e a lua se mostra linda e livre, em qualquer fase.
Pessoas despojadas são capazes de opinar sobre uma obra de arte, exporem-se, ao mesmo tempo ouvir com disponibilidade de aprendizado o que diz o crítico.
Pessoa desprevenida facilmente é levada a acreditar naquilo que lhe sopram ao ouvido, mergulhando num mundo imaginário em que reina absoluto o propósito alheio.
Nada a preservar quando a intenção interior é ferir. Esquecidas, impróprias e inúteis tornam-se as palavras respeito e diálogo. No entanto todo ato pode ser revisto, desde que desfeitas as malícias, as intenções duvidosas, desde que as mãos estejam limpas pelas águas cristalinas do coração e nulos sejam os mecanismos de oportunismo.
Tornar-se uma pessoa melhor é observar mais a si do que ao outro, cuidar de revisar os momentos da vida vividos, e ponderar; como tenho alimentado meus sentimentos!
A cada um é dado o direito de expiar os seus atos.
Há tempo de plantar e tempo de colher!

Lucelena Maia
São João da Boa Vista/SP
09/05/2009

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Não basta ser mãe...


Maratona Radical Bike de Mogi Mirim/SP

Não basta ser mãe…

Eu estava junto, torci, ralei, me empoeirei, empolguei, transpirei e aplaudi quando na linha de chegada meu ídolo, quase atleta profissional, apareceu sobre a bicicleta, após quarenta e seis quilômetros, duas longas horas esgotantes de pedaladas, para romper a primeira Maratona Radical Bike de 2009 na cidade de Mogi Mirim/SP.
Ele não se classificou entre os cinco primeiros na classificação geral, nem foi o primeiro na sua categoria, mas manteve média mínima de 20km e máxima de 45km/h, concluindo com excelente proveito esse desafio ao qual se propôs e que dei o nome de tranquilo desempenho.
A idéia de ser um mountain biker foi dele, o restante ficou por conta da mãe (eu) e do pai, aliás, principalmente do pai, que o equipou para que ganhasse as trilhas da Serra da Mantiqueira na região de São João da Boa Vista, próxima a divisa do sul de Minas Gerais.
O objetivo inicial era vê-lo pedalando com outros jovens, quando filiado ao Mantiqueira Bikers, para apreciar de perto a natureza, as cachoeiras, a vista dos mirantes deslumbrantes, os animais silvestres, plantas variadas e logo cedo assistisse ao crepúsculo matinal na cidade dos crepúsculos maravilhosos, no entanto os desafios chegaram rápido e sem que nos déssemos conta estava nosso filho nas competições de Down Hill, Up Hill, Cross-country, Maratona Radical e cicloturismo.
Ele treina muito, entre uma maratona e outra, usa vestimentas corretas, equipamentos básicos de segurança com suporte adequado, faz trilhas radicais, estradas de chão batido, alimenta-se bem, cuida de revisar a bike e alonga-se antes de pedalar.
Há quase dois anos sou parte de sua equipe de apoio.
É, não basta ser mãe é preciso participar de seus esportes radicais.

Lucelena Maia
S. João da Boa Vista/SP
03/05/2009

terça-feira, 5 de maio de 2009

Mãe


foto lucelena e felipe

Mãe

Cuida do ninho
alimenta o filhote
cantarola em seu leito
adormece-o no peito
ou sobre o decote...

Mãe,
olhos de águia
cuidadosa e quieta
atenta e esperta
observa o voo
que um dia ensinou...


Mãe
é também lamparina,
na noite escura,
em cada esquina,
na madrugada,
um anjo que guia...


Mãe
faz laços e laços
de afeto, carinho, amor
e cuidados (com os filhos)
para quando em
tempos escassos,
na sua ausência,
entrelaçada a esses laços,
ela seja eterna presença...

lucelena maia
São João da Boa Vista/SP
maio/2009