Corinne e Napirai
Leitura rápida, nada clássica, mas prazerosa por ser quase um documentário.
Assim foi a minha leitura nesse final de semana prolongado, em que resolvi ficar mais tempo em casa e ler "A Massai Branca" e "O Retorno em Barsaloi" de Corinne Hofmann, uma empresária suiça na África Oriental.
Um livro complementa o outro.
O primeiro fala da paixão avassaladora de uma suiça de 26 anos por um guerreiro Samburu, do Quênia, que a faz dispensar o namorado depois de uma excursão que fizeram aquele país e retornar para viver um grande amor com o guerreiro de corpo quase nu, em sua tribo massai, onde a circuncisão feminina é apenas um dos extravagantes costumes. A luta por água e comida se faz cotidiana, a moradia não passa de uma cabana feita de palha e estrume de vaca. Comunicação entre o casal precária, em que um não fala a língua do outro. Arranham parco inglês.
O amor tem sua linguagem própria, dizem os românticos...
O tempo passa. Durante esses cinco anos, Corinne contrai malária várias vezes que a leva quase a morte quando grávida e também hepatite, além de extrema magreza por se alimentar sempre muito mal. Ela se vê confusa, indecisa em voltar para Suiça alguns meses após seu bebe nascer. Ela já havia ido e vindo outras vezes, antes de conseguir permanência definitiva no país e antes de ter a filha, mas ficava no máximo 40 dias afastada de seu grande amor e do verdadeiro lar, como ela classificava Barsaloi.
Sendo casada com um Samburu era preciso ele autorizar sua saída do país, e ele faz achando que por algum tempo, como das outras vezes, até Corinne se recuperar do stress, em parte causado por ele, extremamente ciumento e ultimamente bebendo, também. Mas Corinne estava triste e desiludida com seu amor, já não o reconhecia, algumas vezes ele duvidava ser o pai de Napirai e isso fez mudar o amor que ela sentia por ele.
Corinne achava agora que a educação da filha devia ser na civilização. A menina já estava com um ano e meio. Nunca sentira falta da Suiça como sentia, só pensava em ir embora, porém sabia que jamais deixaria de ajudar aquela gente tão necessitada em Barsaloi, era seu pensamento.
Assim ela partiu, para não mais voltar ao Quênia.
Corinne continuou, mesmo a distância e sem ter contato com seu ex-marido massai, a ajudar a todos, principalmente depois do lançamento do livro que lhe rendeu 6 milhões de vendas por todo o mundo.
Quatorze anos depois, com o livro publicado e a filmagem da história em andamento, ela retorna ao Quênia e conta sua experiência no livro "Reencontro em Barsaloi".
O texto é rápido e cheio de emoções, pois o medo de não ser bem recebida na tribo, que a deixava insegura antes de ir, acabou assim que colocou os pés naquele país. Foi recebida com muito carinho e respeito por todos que a conheciam e isso a levou a reviver com certa nostalgia a história passada. Mas o passado já não se encaixava no presente, até porque Napirai, com 15 anos, não manifestava vontade de conhecer sua família queniana. Era uma jovem suiça, apesar da cor. Para eles, no Quênia, ela disse que a menina estava estudando, numa outra oportunidade iria vê-los, porém eu busquei saber, pela internet, hj ela tem 18 anos e ainda não foi ver seus parentes africanos.
O filme já esteve em cartaz, em 2005, e deu a atriz principal, Nina Hoss, no papel de Corinne, algum prêmio importante na Alemanha, onde o filme foi produzido.
A leitura a principio não me agradou pela paixão entre pessoas tão diferentes. Ela de classe média alta e ele um samburu sem instrução escolar (analfabeto), principalmente pela diferença gritante de cultura. Porém no desenrolar da história me apeguei aos costumes daquela gente e transportei meus olhos para as dificuldades daquelas pessoas humildes em meio ao nada e ainda assim felizes ao modo deles.
Através da ótica de Corinne conheci um pouco mais do Quênia e ela o faz com leveza e consideração.
Enfim, uma história real que merece respeito de quem a lê.
Lucelena Maia
São João da Boa Vista/SP
22/04/2009